Claro que o assunto “corrupção” incomoda muito. É um mal mundial, que derruba governos, empobrece países, afeta a autoestima da população, piora serviços públicos essenciais, e por aí vamos. Socialmente falando, é uma enorme distorção de comportamento, que vai se alastrando e com o tempo, passa a ser visto como comportamento normal, e aí até as novas gerações vão ser contaminadas. Lendo uma entrevista publicada na revista Exame (1/abril/2015), “Corrupção é falência moral”, com o filósofo Michael Sandel da Universidade de Harvard, uma pergunta e sua resposta me chamaram mais atenção, transcrevo a seguir.
“P: O que o senhor quer dizer quando fala em virtudes cívicas? R: São cidadãos com atitudes e hábitos que tenham como meta o bem comum. Mesmo quando estamos dentro do carro, tremendamente atrasados e vemos que não há câmeras vigiando no semáforo, obedecemos ao sinal vermelho. Mesmo quando o poder de fiscalização do Fisco é falho, pagamos todos os impostos. Mesmo quando parece não haver alternativa, nos recusamos a dar ou a receber propinas. Em resumo, não negociamos o valor da honestidade e do respeito mútuo. Por quê? Porque esses valores são parte constitutiva do que somos. É nosso caráter. É nossa visão de democracia. O combate à corrupção envolve a aplicação das leis e também uma transformação cultural. A ideia de que sempre se deve tirar vantagem do sistema precisa ser fortemente combatida. A corrupção não é apenas um caso de lei. É de atitude diária.”
Em um texto curto, acho que o entrevistado falou tudo, com sobra, dispensa comentários. O paradoxo é que até quem pratica a corrupção concorda plenamente, e acha que seu comportamento é exatamente o descrito, um exemplo social. Ou vocês acham que algum dos implicados no que está ocorrendo no momento no Brasil e no mundo afora se acha desonesto ou corrupto? Nunca, vão sempre achar uma “justificativa” para o que fazem ou fizeram, sem atentar para o fato de que estamos falando de conceitos sociais absolutos, que não admitem justificativas ou explicações. O comportamento socialmente aceitável é apenas um, descrito no trecho da entrevista acima.
Os comentários que leio de que “corrupção é endêmica no Brasil e faz parte da nossa cultura de querer levar vantagem em tudo” não são verdadeiros e não fazem justiça a nós brasileiros. Não somos um povo corrupto, de forma alguma, pelo contrário, somos um povo honesto e trabalhador. Corrupção é um mal que assola o mundo todo, começando pelo primeiro mundo. Tanto é que a OECD – The Organization for Economic Co-operation and Development (Brasil faz parte) trata do assunto extensivamente, vejam no site específico da organização. Os princípios e controles padronizados pela OECD são aceitos e utilizados nos países-membro da organização, que aos poucos vão conseguindo avançar no combate à corrupção.
As iniciativas da OECD atacam o problema institucional, estabelecendo padrões de transparência, processos transparentes, controles específicos que permitem perceber que algo está indo errado. Mas o problema maior está na outra ponta, na formação da sociedade, na educação do povo, nos valores passados antes de mais nada pela família e em seguida, pela escola. É aí que a sociedade como um todo pode atuar, e todos podemos ajudar.
Esta postagem curta é apenas um desabafo meu, cidadão, sobre o momento atual brasileiro, com o que está sendo revelado pelas investigações das polícias e do MP.
(este artigo foi escrito por zeluisbraga, e postado no meu blog zeluisbraga . wordpress . com) (this post is authored by zeluisbraga, published on zeluisbraga . wordpress . com) (from Viçosa, MG)
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