Memes e a memética

Selfish Gene

Há uns bons 12 anos, quando eu estava na University of Florida (1998-1999), meu parceiro de pesquisas de lá, prof. Howard Beck, apareceu com esse livro ai, The selfish gene, publicado pela primeira vez em 1976, autoria do agora já conhecido etologista britânico Richard Dawkins. Que tem uma penca de outros bons livros escritos e boa parte já disponiveis em português. Lemos e discutimos esse livro todo, mais de uma vez, muita coisa instigante com relação à teoria da evolução e seus desdobramentos (nem preciso dizer que Dawkins é um evolucionista empedernido).

Em particular, gastamos um tempo enorme com o capítulo 11 deste livro: Memes, the new replicators. O autor apresentava ai, pela primeira vez, sua teoria sobre a reprodução e espalhamento de idéias no meio cultural, que ele compara ao espalhamento de genes no meio genético. Daí o nome meme, ficando semelhante a gene, para levar adiante essa idéia do espalhamento cultural de idéias. Surgiu dai o fértil campo de pesquisa em memetics, com vários sites disponiveis sobre o assunto, conferências, etc., recomendo o acesso inicial a esse aqui, da pesquisadora Susan Blackmore, autora de um dos livros influentes na área: The meme machine.

Na concepção original do autor, para ter uma teoria completa da evolução, não é suficiente focar apenas na evolução biológica. A evolução de idéias no meio social também deve ser considerada com o mesmo nível de importância. A metáfora escolhida por Dawkins foi a dos genes, a partir da qual ele criou o conceito de meme, que é a unidade básica de evolução cultural e das idéias. Idéias convivem no que ele denominou de meme pool (similar a gene pool), e estão sujeitas à propagação total ou parcial, adaptação, destruição ou substituição por idéias mais fortes. Imitação ou cópia é o mecanismo básico de propagação, e as idéias têm associadas um valor de sobrevivência e precisam de uma máquina de sobrevivência ou hospedeiro para que possam se propagar. A competição também é muito forte entre os memes, que têm as propriedades: longevidade (medida do tempo em que um meme permanece ativo no meme pool); fecundidade (medida da velocidade de replicação do meme); fidelidade de cópia (que é uma medida da aderência do meme transmitido com relação ao meme original do qual ele foi copiado).

Acharam esta postagem uma viagem maluca? Nem é tanto assim, na verdade é uma idéia revolucionária para explicar fenômenos sociais da propagação das idéias. Que se transformou em uma área de estudos, interseção de biologia, genética e métodos de inteligência computacional, com muitos adeptos interessados em entender os fenômenos da propagação das idéias. Por exemplo, como é que o uso de boné com a aba virada para trás pegou tão rapidamente e se espalhou pelo mundo afora? Tudo isso me voltou a cabeça quando terminei de ler o livro O efeito Medici, que vai ser comentado aqui no blog em breve, aguardem!

(este artigo foi escrito por zeluisbraga, e postado no meu blog zeluisbraga . wordpress . com) (this post is authored by zeluisbraga, published on zeluisbraga . wordpress . com)

Consultor Independente, Treinamento Empresarial, Gerência de Projetos, Engenharia de Requisitos de Software, Inovação. Professor Titular Aposentado, Departamento de Informática, Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Doutor em Informática, PUC-Rio, 1990. Pós-Doutoramento, University of Florida, 1998-1999

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Publicado em Inovação, Interseção, Livros, Pesquisa
5 comentários em “Memes e a memética
  1. As idéias são seres com lógica própria, que evoluem, criados de maneira não intencional pelos humanos, ‘desenhados’ para se reproduzir usando esses processadores de informação, os cérebros. Logo, os Blogs são análogos à “sopa primitiva” proposta por Haldane-Oparin. Mas se os leitores forem cracionistas…
    Aí são outros memes ! Rs. Um abraço camarada.

    • Fala, Aletoc. Pois então, esse assunto começou como uma maluquice 12 anos atrás, no rastro das conversas sistêmicas que a gente tinha lá na UFL. A área foi adiante, tem muita coisa interessante escrita depois disso. Nós mesmos produzimos um artigo, nunca submetido, porque coincidiu com a minha volta para o Brasil (não consegui prorrogação na Capes), e a vida aqui engole a gente, projetos vão sendo deixados na prateleira… abraço,

    • Uma retificação – A palavra “cracionistas” é na verdade CRIACIONISTAS…

      “Sopa Primitiva” é um “meme” que propõe a hipótese do surgimento da primeira célula a partir de um caldo orgânico composto pelas moléculas fundamentais que estruturam os seres vivos (1929).

      Em 1953, Stanley Miller e Harold Urey, universidade de Chicago, produzem aminoácidos a partir da suposta composição química da atmosfera primitiva.

      Costumo dizer aos meus alunos que crer no surgimento de uma célula a partir da combinação aleatória das moléculas químicas que a estruturam é uma questão de “FÉ”. Talvez aí se deu uma intervenção divina. E o dedo de Deus juntos as “peças” do quebra-cabeças da vida ! Esse “meme” é meu ! Será que evolui ? Rs

  2. railer disse:

    o que você achou do filme ‘a origem’ (inception) e essa questão das ideias dispostas dentro da nossa cabeça? se não viu ainda, não perca tempo e leia minha crítica.

    http://raileronline.blogspot.com/2010/08/inception.html

  3. […] final de 2010, fiz uma postagem aqui no blog, Memes e a memética, falando sobre a origem da palavra meme e sobre o livro do Richard Dawkins de onde o termo saiu, […]

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