O efeito Medici

Efeito Medici

Esse livro, O efeito Medici, Frans Johansson, foi minha última leitura. Ganhei de presente de um orientado de mestrado, e li em pouco tempo, pois o livro é muito interessante, linguagem fácil e muito acessível. O Medici do título, refere-se à familia Medici, que governava Florença, Itália, na época do Renascimento. O Renascimento foi um movimento iniciado na Itália e que durou do século XIV até o século XVI aproximadamente, difundindo-se por toda a Europa.  Lourenço de Medici (1449-1492), membro da família, politico e banqueiro da época, é considerado um influente mecenas (protetor das letras ou dos letrados e sábios, Dicionário Online UOL) das humanidades durante esse periodo. Ele próprio um poeta, patrocinou artistas e literatos, dentre eles o pintor Michelangelo. O Renascimento, seguido pelo Iluminismo, foi o movimento cultural e artistico que teve mais impacto em toda a história da humanidade. Marcado pelo forte desenvolvimento da filosofia, artes, ciências, os pensadores, filósofos e cientistas dessa época influenciaram e ainda influenciam todo o desenvolvimento cultural e científico da humanidade.

Bom, mas o que é que tudo isso tem a ver com Inovação e Empreendedorismo, que são as categorias e tags que utilizei para classificar a postagem? O autor utiliza essa fase da história da humanidade para mostrar que as condições exigidas para o surgimento de inovações são semelhantes às que se verificavam em Florença nessa época. Um enorme caldeirão cultural em que artes, filosofia, ciência, pintores, artesãos, escultores, construtores conviviam no mesmo espaço, em um ambiente muito favorável ao cruzamento, interseção de idéias. Que, segundo o autor, é o combustivel da inovação. As possibilidades de inovação estão muito mais nas interseções entre áreas diferentes, do que propriamente em uma área de especialização, em que os especialistas aprofundam muito e tendem a entender cada vez mais sobre menos, talvez limitando a criatividade. É muito mais dificil inovar em áreas estabelecidas, do que em áreas de interseção, embora as interseções exijam mais arrojo, mais coragem, mais visão dos inovadores.

O livro é todo sobre esse tipo de consideração, exemplos e mais exemplos, discussão sobre o tema e correlatos. Sempre focado nas interseções e nos ambientes onde elas estão disponiveis. Fiquei imaginando onde é que teríamos ambientes desses por aqui, no Brasil. Onde é que essas condições de interseção podem ser encontradas? O ambiente das universidades deveria ser propicio, por aqui convivem tendências, áreas, pesquisas, especializações, interações entre pesquisadores. Mas, aparentemente e estranhamente, a inovação não ocorre por aqui…

Postagens relacionadas: Aula da Saudade – Janeiro de 2010; Inovação: nações inovadoras, e outras na categoria Inovação aqui no blog.

(este artigo foi escrito por zeluisbraga, e postado no meu blog zeluisbraga . wordpress . com) (this post is authored by zeluisbraga, published on zeluisbraga . wordpress . com)

Consultor Independente, Treinamento Empresarial, Gerência de Projetos, Engenharia de Requisitos de Software, Inovação. Professor Titular Aposentado, Departamento de Informática, Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Doutor em Informática, PUC-Rio, 1990. Pós-Doutoramento, University of Florida, 1998-1999

Marcado com: , , ,
Publicado em Empreendedorismo, Inovação, Interseção, Livros
8 comentários em “O efeito Medici
  1. railer disse:

    estive em florença esse ano e realmente aquele lugar respira cultura, é um museu a céu aberto. acho que isso ajuda na criatividade que, por consequência, leva a inovação.

  2. Gostei Zé! Vou colocar na minha lista dos “livros a serem lidos”. Na mesma linha recomendo também o livro “Where Good Ideas Come From: The Natural History of Innovation” de Steven Johnson. Ele fala sobre uma série de patterns que levam à criação de novas e boas idéias. Conceitos como a colisão de idéias (ou hunches) que tem muito a ver com o que você descreveu acima. E também o de “Exaptation” que é usar algo que foi originalmente pensado para um fim, em outro contexto. Por exemplo, Gutenberg criou a prensa (de livros e outros textos) a partir de uma idéia já existente de uma prensa de uvas, para produzir vinho.

    2 links legais:

    – O do livro na Amazon (http://www.amazon.com/Where-Good-Ideas-Come-Innovation/dp/1594487715)
    – E o do vídeo promocional do livro (http://www.youtube.com/watch?v=NugRZGDbPFU)

    • Esse livro já está na minha shopping list na Amazon, na próxima compra ele vem junto (tem que esperar passar o Natal para o pacote não se perder por ai). O tema é muito interessante, desde a leitura do livro The act of creation do Arthur Koestler, que discutimos no doutorado (tem tempo…), o assunto faz parte dos meus preferidos. abraço,

  3. Carlos Emílio Barbosa disse:

    Professor, muito interessante o post sobre o livro.

    A pouco tempo assisti uma palestra relacionada com essa temática. O palestrante deu o exemplo do Vale do Silício, onde estão concentradas várias empresas de tecnologia e por isso se destaca como um ambiente de alta inovação. Ele deu muita ênfase nos efeitos positivos que a proximidade física dos concorrentes causa para as empresas de base tecnológica.

    Sobre Viçosa, a UFV é hoje uma das instituições do país que mais gera conhecimento na área de ciências agrárias. De alguma forma esse conhecimento não é convertido em riqueza para a região. O que falta então? Seria uma atuação mais forte do governo no sentido de “linkar” essa geração de conhecimeto e a geração de negócios para a região? Não sei se é bem nesse sentido. =)

    Abraços

    • Eu acho que falta mesmo é a cidade de Viçosa acordar para isso, e criar as condições favoráveis na cidade. A UFV e as universidades de modo geral, fornecem os fundamentos, o pessoal bem formado, enfim, os “insumos” para a inovação. O ambiente de inovação tem que ser criado na cidade, complementarmente, a universidade não consegue fazer tudo. E o nó está ai… o Vale do Silicio teve a Universidade de Stanford como o grande gerador de conhecimento, mão de obra, etc., que foi bem aproveitado. O triste é que Viçosa com seus dirigentes não consegue ter resolvidos nem os problemas básicos de infraestrutura, como é que vai criar condições para a inovação? obrigado pela visita

  4. Léo disse:

    “Onde é que essas condições de interseção podem ser encontradas? O ambiente das universidades deveria ser propicio, por aqui convivem tendências, áreas, pesquisas, especializações, interações entre pesquisadores. Mas, aparentemente e estranhamente, a inovação não ocorre por aqui…”

    Zé,

    Fico observando, já há “muito tempo” (desde que eu era aluno na UFV), como é difícil essa interseção. Os pesquisadores ficam em suas “caixinhas”, produzindo conhecimento específico, e perdem oportunidades enormes de unir-se com pesquisadores de outras áreas (que estão, muitas vezes, no prédio ao lado) e produzir inovação “nas interseções”. Talvez por isto:

    “… as interseções exijam mais arrojo, mais coragem, mais visão dos inovadores.”

    Ou, ainda, por que as interseções exigem aprofundar-se em uma área que não é “a sua”, o que dá trabalho.

    Abraços,

    Léo

    • É mais ou menos isso mesmo. Mas os tempos estão mudando, obrigando todo mundo a pular fora da caixa de proteção, mudar o status quo e a encarar os novos desafios da colaboração. Vê um reply que deixei aqui em um comentário anterior. Abraco,

Deixe um comentário