Ausência tecnológica

A convivência com os avanços tecnológicos é dificil em algumas situações. Já repararam como os mais jovens, digo a garotada passando da infância para a adolescência, não larga os celulares e smartphones?  Com a disponibilidade cada vez maior de redes wifi abertas em restaurantes, bares, shoppings, lojas, etc, o uso desses aparelhos passou a ser quase que continuo, você sai de uma rede e entra em outra até sem perceber, e sem necessidade de ter um plano 3G de acesso a internet com a sua operadora de telefonia celular.

O comportamento da garotada chega a ser engraçado. Não desgrudam o olho da tela do aparelho, esperando o reply da mensagem super-importante que acabaram de enviar. Conversa? nem pensar, respondem com monossilabos, é só Hamham, sim, não, e nada de estender o papo. Param para comer, mas o aparelho fica do lado do garfo, interrompem a refeição o tempo todo para responder aos chats e continuar na conversa. Já vi várias vezes o garoto “conversar” com o garoto do lado usando o chat, ao invés de conversar de fato. Não é engraçado? Mas também pode ser trágico, pois o uso irresponsável desses aparelhos enquanto a pessoa está dirigindo, principalmente para envio e recepção de mensagens, é um problema serissimo que tem causado desastres graves e com mortes. Tanto aqui quanto nos EUA, onde o problema é mais grave, vejam o blog Texting while driving. Semana passada mesmo, os telejornais mostraram o caso de um garoto que atravessou a rua falando ao celular, não prestou atenção em nada, foi atropelado e por sorte dele, o trânsito estava lento e os danos foram poucos, apenas uma perna quebrada e um tremendo susto.

Esse comportamento invadiu as salas de aula, e nós professores passamos a ter que lidar com uma movimentação completamente inusitada durante as aulas. A maioria dos alunos respeita a sala de aula, e sai da sala para atender aos celulares. Mas, responder mensagem de chat não é problema, pode ser feito na sala de aula mesmo, não interrompe a aula. Resultado: durante as aulas, um monte de ausentes tecnológicos, corpo presente e mente ausente, a mil por hora em outros locais e ambientes. Inventei o termo ausente tecnológico  para nomear essa garotada, querendo significar ausente pela tecnologia.

Em uma postagem recente aqui no blog, Sincronismo, sala de aula e as novas gerações, apresento e discuto melhor a questão da sala de aula, e o fato de como estamos atrasados e fora do contexto com as nossas aulas. Tentando prender a atenção de uma juventude que usa outros meios para aprender. Esse tem sido meu enorme desafio, e tem tomado uma boa parte do meu tempo: levar novas técnicas de ensino-aprendizagem para a sala de aula, e fazer meus alunos aprenderem melhor com elas. Dureza…

Atualização 12/07/2011: Eu desligo por você, Railer Freire

(este artigo foi escrito por zeluisbraga, e postado no meu blog zeluisbraga . wordpress . com) (this post is authored by zeluisbraga, published on zeluisbraga . wordpress . com)

Consultor Independente, Treinamento Empresarial, Gerência de Projetos, Engenharia de Requisitos de Software, Inovação. Professor Titular Aposentado, Departamento de Informática, Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Doutor em Informática, PUC-Rio, 1990. Pós-Doutoramento, University of Florida, 1998-1999

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11 comentários em “Ausência tecnológica
  1. Daqui a pouco teremos que incluir no nosso “kit professor” um bloqueador de celular!!! 😉

    • na verdade, já existe um bloqueador pessoal, vi há pouco tempo num programa de tecnologia do canal Cinemax. em breve, iremos para a sala de aula empurrando uma galeota de construção, com uma pilha de parafernália tecnologica para usar nas aulas, hehehe

    • Glauber Costa disse:

      Acho que o caminho e tentar usar tais recursos ao inves de tentar bloquea-los. Se criam algo para bloquear, menos de um mes depois ja criaram formas de burla-lo.
      Mas, concordo que aulas de cuspe e giz ou mesmo datashow estao cada vez menos produtivas. Haja criatividade para chamar a atencao da galera.

  2. Alexandre disse:

    Zé, um problema que eu percebo disso é o déficit que essas pessoas estão tendo, consumindo uma enorme parte de suas vidas com conversas 99,99% fúteis, não se preparando tecnicamente para colaborar com trabalho na sociedade. Podem haver os que defendem que é uma evolução, que precisa aceitar isso em todo lugar, inclusive nas salas de aula. Para alguns jovens pode ser verdade. Mas tem que haver limite e cautela. Eu acredito que estão julgando que o comportamento de um grupo é enriquecedor sem botar à prova os indivíduos deste grupo. Acreditar que a geração Z é mais preparada naturalmente para enfrentar os desafios atuais tem parecido (para mim) ser apenas uma questão de fé mesmo. A menos que os desafios sejam resumidos a ficar conversando o dia todo com os amigos virtuais. Pode-se discutir isso, mas o resultado só veremos no futuro.

    • é tudo um enorme desconhecido, porque são inúmeras variáveis em jogo. a gente consegue enxergar apenas algumas, como por exemplo a falta de atenção com o que fazem, a ausência tecnológica, e umas poucas outras. mas não conseguimos enxergar todas as variáveis ainda, e nem como elas se relacionam. é muito dificil falar alguma coisa certeira para o futuro próximo dessa geração. eu não me arriscaria a predizer nada, apenas acompanho com interesse e vou enxergando as novidades. já vivi outras revoluções tecnológicas, como por exemplo a da máquina de calcular na sala de aula, muitas discussões, tinha neguinho achando que estávamos criando uma geração de incapazes de raciocinar, e no entanto, nada disso aconteceu, o efeito foi o contrário, a máquina de calcular foi um catalizador de raciocinio muito interessante. já me bateu a vontade de orientar uma dissertação para construir um modelo dinâmico….

    • Alexandre disse:

      Zé, é possível que esses alunos tenham o perfil mais adequado à modalidade de EaD. É só uma suposição, mas isso já pode ser experimentado.

    • é o caminho que estamos tentando, na postagem sobre Sincronismo e sala de aula, é o que eu discuto. as experiências estão sendo muito boas usando wikis, blog, twitter, você mesmo participou nesse semestre. o desafio é diferente, o trabalho em casa é mais confortável, rende mais, os trabalhos ficam melhores. só não posso ainda dar uma prova para ser feita em casa, para alunos da graduação…

  3. Lembro de você comentando isso em uma aula da Pós esse ano.

  4. railer disse:

    bacana este assunto. quando eu era estudante em viçosa, apenas duas pessoas da minha turma tinham celular, imagino agora como deve ser.

    gostei do termo ‘ausentes tecnológicos’. verdade mesmo e não só na sala de aula, mas no restaurante, no bar, na praça, em todos lugares. até mesmo em jantares a dois eu já vi isso acontecer.

    leia aqui: http://raileronline.blogspot.com/2010/07/eu-desligo-por-voce.html

  5. […] Publicado originalmente no Blog do Professor José Luis Braga. […]

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