Este é um assunto que eu já deveria ter comentado aqui no blog há muito mais tempo. Mas é aquela história, as coisas acontecem, a gente passa por elas, lembra que é assunto para o blog, mas não anota em lugar nenhum. E o tempo vai indo, o assunto fica esquecido. Até que, como aconteceu agora comigo, a gente se lembra dele lendo algum texto não relacionado com o assunto, a ideia volta a brilhar. Em particular, estava lendo um pequeno texto do Gabriel Garcia Márquez, no livro O escândalo do século (muito bom, recomendo).
Aeroporto de Confins, não me lembro mais o ano, possivelmente lá por 2017, não importa muito. Embarque internacional para os EUA, vôo direto da American para Miami. Esse vôo não existe mais, ficamos condenados a ter que embarcar em outros aeroportos do país, Guarulhos é o campeão. Na fila da Polícia Federal para checagem de passaporte, documentos, etc. Na minha vez, cumprimentos de praxe ao agente que estava na cabine, pegou o passaporte (ainda era o modelo antigo), entrou com meus dados no sistema, olhou para mim, olhou para o passaporte, olhou para mim de novo, olhou para o passaporte, olhou para a tela… Claro, pensei logo, deu merda! Aí o pior do constrangimento, a fila inteira de olho em mim, o agente me encaminhou para outra cabine, onde estava (claro) outro agente responsável por desambiguar as ambiguidades que aparecessem. Cumprimentos novamente, me perguntou se eu tinha outro documento disponível, e claro que eu tinha, sempre viajamos com a identidade atualizada e carteira de motorista. Apresentei a identidade, em dois minutos me liberou.
Claro demais, eu quis saber o motivo da dúvida. Perguntei se era problema com homônimo e ele assentiu, e disse que com os dados da identidade eles conseguem desambiguar e identificar o cidadão corretamente. No caso, o nome da mãe é a chave da desambiguação. Disse também que esse problema seria resolvido na emissão do meu próximo passaporte, que já vem com chip de identificação, que tem as informações concentradas e mais confiáveis. Minha cabeça a mil por hora, eu ex-professor também de banco de dados, onde o assunto chave primária, chave secundária e um monte de outros correlatos era esticado em várias aulas, muito sério. E eu ainda pensando, porque não usam o tal do CPF que é, supostamente, um identificador único de cada cidadão brasileiro? Algum problema existe, podem ter certeza, talvez alguma integração de sistemas que ainda não foi implantada. Problema muito comum, existem vários sistemas antigos, denominados sistemas legados, que ainda não são integrados aos sistemas mais novos por uma questão de custo altissimo para a integração. Bom, deixa os bancos de dados para lá, vou acabar mostrando transparências das minhas aulas (em papel celofane ou plástico :):)).
Quando cheguei ao destino nos EUA, peguei um notebook e fui pesquisar meus homônimos, só de curiosidade. Nome comum demais, curto, e com sobrenome também muito comum, principalmente em Portugal. Mesmo com meu Luis escrito com “s”, não me livra das colisões de nomes. Encontrei alguns homônimos envolvidos em processos judiciais, nem quis olhar o conteúdo, não interessa muito. E fiquei pensando na realidade atual com relação aos nomes. O mundo está entupido de gente, e certamente a questão dos homônimos deve ter piorado muito, não tem como a gente se esconder no nome. Como é que o cidadão comum pode resolver isso? O jeito mais fácil é não usar nomes curtos, aproveitar os sobrenomes de mãe e pai, usar nomes incomuns, etc. Quanto mais nomes ou sobrenomes forem incluídos, certamente diminui a quantidade de homônimos. Já fiz o teste, quando fiz a busca no Google incluindo o sobrenome da minha mãe no meu nome, a quantidade de homônimos caiu muito, apenas uns dois. Deu até vontade de acrescentar o sobrenome da minha mãe no meu nome, mas dá uma trabalheira do cão, até as certidões de nascimento dos meus filhos tem que ser alteradas, e todos os documentos deles daí em diante. Resultado do sistema cartorial de registro no Brasil, poderia ser uma coisa muito simples, um registro de nomes alternativos associados ao mesmo nome original. Solução muito usada na computação (alias), mas que ainda não chegou aos cartórios.
Bom, fica a dica de alerta, que certamente ainda vai ter falhas. Ia me esquecendo, com o passaporte novo, o problema desapareceu (a agente que emitiu o passaporte me garantiu que não teria mais problemas). Mas, sinceramente, ainda levo umas olhadas de banda dos agentes nas filas da Polícia Federal nos aeroportos. Tipo olhada rápida, despistada, de olho na tela do computador. Já estou acostumado…
(este artigo foi escrito por zeluisbraga, e postado no meu blog zeluisbraga . wordpress . com) (this post is authored by zeluisbraga, published on zeluisbraga . wordpress . com) (from Viçosa, MG) (Estou no GoodReads)