CrÔniCAS

Depois de pandemia e todas os seus desdobramentos e impactos, principalmente os sociais e politicos, congelei o blog. E o congelamento durou mais do que eu esperava, já tem quase um ano que não escrevo nada, as ideias e a disposição de escrever sumiram completamente. Nesse intervalo de tempo, ainda tivemos eleições para presidente no Brasil, e eu li, vi e ouvi tanta besteira, tanto desrespeito tanto pelas pessoas, crenças, religiões, familia e pelo nosso Brasil, que achei melhor não me manifestar por aqui, e transformar tudo em aprendizado. Que custou caro, algumas amizades (será que eram mesmo?), algumas crenças alteradas, etc.

Fui me refugiar nas leituras e nos estudos mais sérios. Aproveitei o tempo para estudar (não só agora, mas nos últimos quatro anos pelo menos) ciências políticas, economia (já tinha um bom conhecimento), ciências sociais e principalmente, relações internacionais. Bons autores, bons livros, muito aprendizado, consegui romper até agora em equilíbrio (pelo menos eu acho que sim). Se quiserem ver a trilha de leituras desses tempo de imersão e introspecção, no final da postagem sempre deixo o link do meu perfil no GoodReads, onde fica tudo registrado e comentado.

Também aprendi a gostar das crônicas, fui aprendendo aos poucos, conversando com um amigo que recentemente publicou um livro de crônicas muito bom, sobre nossa terra natal, Visconde do Rio Branco, suas histórias e seus personagens. Crônica é um estilo que exige mão na massa imediata, não adianta ficar lendo ou estudando. Quase tudo que a gente escreve é crônica, este blog está cheio de crônicas, embora eu nunca tenha pensado ou desconfiado que estava escrevendo uma crônica! Daqui em diante, vou me dedicar a produzir crônicas, sem estar preso a assunto específico. Dentro do possível, mesclando com um pouco de humor (meus ex-alunos não vão gostar, afinal não gostavam das minhas piadas na sala de aula).

Em breve, os novos escritos vão começar a aparecer, e já estou ansioso para me divertir mais com a escrita. Por enquanto, continuo hospedado aqui no WordPress, mas é possível que em algum momento, eu troque de hospedeiro. Aguardem,

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Pesadelo

Música faz parte da minha vida, desde sempre. Quando criança, ouvia piano clássico direto e reto, tocado por um tio querido que já não está mais por aqui. Toco violão desde inicio da adolescência, motivado pela músicas e letras inocentes (até certo ponto) da Jovem Guarda e The Beatles. Sou viciado confesso em música, sem preferência (desde que não seja barulho exclusivamente), e escuto música a maior parte do meu dia.

As letras e músicas populares, se ouvidas cronologicamente, contam nossa história. O que também acontece com a arte, riquissima em detalhes e histórias de cada época que vivemos. Tudo tem contexto. E hoje, encadeada com nossa história recente e atual, me voltou à mente a música Pesadelo, cuja letra segue transcrita abaixo. Autores Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, e a interpretação mais marcante para mim, é a do MPB-4. O contexto era outro, outros eventos, outras pressões, repressão, censura. Se quiserem ouvir a música, está aqui, no YouTube.

Pesadelo
(Maurício Tapajós / Paulo César Pinheiro)

Quando o muro separa, uma ponte une
Se a vingança encara, o remorso pune
Você vem me agarra, alguém vem me solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua, ela um dia é nossa
Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando
Que medo você tem de nós, olha aí

Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente, olha eu de novo
Perturbando a paz, exigindo troco
Vamos por aí, eu e meu cachorro
Olha um verso, olha o outro
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós, olha aí

O muro caiu, olha a ponte
Da liberdade guardiã
O braço do Cristo, horizonte
Abraça o dia de amanhã, olha aí

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Extrema brevidade da memória financeira

Minhas leituras vão variando de acordo com o interesse do momento. São caminhos que vou seguindo e, para não cansar demais de um tema, vou variando. No momento, estou lendo bons livros sobre economia, que me fascinam. Na leitura do excelente livro O Mais Importante para o Investidor, do Howard Marks, dentre as muitas lições fundamentais, hoje topei com essa pérola que segue abaixo. Muito atual, e não somente para os investimentos, para a política também. Poucos anos são suficientes para o esquecimento das lições do passado recente, e uma nova geração vai seguindo o mesmo caminho do erro.

Quando as mesmas circunstâncias ou outras extremamente semelhantes ocorrem novamente, às vezes, apenas alguns anos depois, já são saudadas por uma nova geração, geralmente jovem e extremamente confiante, como uma descoberta brilhante e inovadora do mundo financeiro e econômico. Há poucas áreas do esforço humano em que a história vale tão pouco quanto no mundo das finanças. A experiência do passado, na medida em que faz parte da memória, é descartada como o refúgio primitivo daqueles que não têm a visão de apreciar as incríveis maravilhas do presente. (John Kenneth Galbraith, A Short History of Financial Euphoria. New York, Viking, 1990).

Uma bela lição!

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Portugal – Ep01

Acabei me esquecendo de escrever aqui sobre nossa recente viagem a Portugal, em abril de 2022. Ainda está em tempo, detalhes ainda frescos na cabeça. Essa ai é uma foto da Praça do Comércio em Lisboa, mostrando o famoso Arco da Rua Augusta. Uma região preferida por turistas, muito bonita e cheia de atrações, fica na margem do rio Tejo.

Começando do começo, viajamos (total sete pessoas), dos EUA para Lisboa diretamente. Cinco horas de fuso horário, Lisboa mais tarde que Newark-NJ (partimos do Liberty Airport, em Newark). O primeiro impacto na chegada: a fila imensa e interminável no aeroporto de Lisboa, tremenda desorganização. Mais tarde fomos saber que é regularmente assim, no mínimo duas horas para conseguir passar pelos agentes da imigração e ir buscar as malas. A fila começou quando saímos do avião e entramos no corredor de saída do aeroporto. Fila a perder de vista, com uns três metros de largura, só engrossando com o pessoal de outros vôos chegando e entrando pelo meio da fila. Desesperante. Depois de muito tempo e muita raiva, conseguimos chegar na fila da imigração propriamente dita. Outra fila descomunal, mas pelo menos fila normal um-a-um. Calculamos umas 1000 pessoas nessa fila. No total, gastamos umas quatro horas desde a chegada do vôo, até pegarmos as malas (eu acho que foi mais que isso). É de endoidar!

Enfim, chegamos no hotel, tomamos posse dos quartos, e fomos para a rua conhecer o centro de Lisboa. Surpresa agradável, tudo bem cuidado, cidade bonita, pitoresca. Ficamos perto da Avenida da Liberdade, ponto central de Lisboa, fica perto de tudo interessante. Exploramos Lisboa por dois dias, gostei demais, espero ter a oportunidade de voltar e ficar por lá mais tempo, para explorar os botecos e restaurantes com menos pressão de tempo. Fomos a Belém, claro que sim! Muito perto, também aprazível, e experimentamos os famosos pastéis de Belém na fonte. Deliciosos, apesar de eu não ser chegado a doces.

De Lisboa, seguimos de van alugada para a cidade de Porto, com uma parada longa em Fátima. Fomos conhecer o santuário, a igreja, tudo muito bem cuidado, muitos turistas, e com um enorme peso espiritual, causa um grande impacto nos visitantes que têm alguma fé. Meio da tarde seguimos para o Porto, direto para o hotel. Chovendo, e fazendo frio. Chuva fina, nada que incomode turistas. Porto é uma cidade linda, muito lotada de turistas, muita história para ver de perto e entender melhor. Claro, muitos restaurantes, muitos botecos, e muita loja com pastéis de nata. O “outro lado” do rio Douro, Gaia, é fantástico. Dá para passar dias por lá, só na vagabundagem, visitando vinícolas, tomando bom vinho e comendo boa comida. Não vou nem recomendar, porque é um passeio obrigatório para quem vai a Porto.

Dois dias depois, seguimos para Braga, cidade de meus antepassados, de onde veio meu bisavô português diretamente para a região de Visconde do Rio Branco – MG. Não só por questões familiares, adoramos a cidade de Braga. É outra região que exige outra viagem com mais tempo, é muito linda, fácil de explorar, e muito presa a tradições religiosas. Chegamos lá numa quinta-feira santa, a cidade já estava cheia de turistas por causa da semana santa. Pudemos ver as comemorações da sexta-feira da Paixão ao vivo, procissão durante o dia, e uma linda procissão artística, teatral, à noite. Fantástico, de encher o coração. Queremos voltar a Braga e ficar mais tempo, para explorar a região, conhecer Guimarães que é muito elogiada.

Uma dica para quem quer conhecer Braga com visita guiada. Encontramos lá com um casal de brasileiros, Amílcar e Silvana, que fazem doutorado na universidade, e criaram um canal no Instagram, pesporbraga (Pés por Braga), que eu recomendo seguirem se tiverem interesse. Eles oferecem o serviço de guia para conhecer a região. No canal, muitos vídeos sobre Braga e a região linda.

Terminando, foi uma viagem de dez dias, agradabilissima. Andamos muito, conhecemos muito, tudo fácil e reto. As estradas são boas, a orientação é fácil com ajuda do Google Maps, e com a direção segura do Vinicius que, para minha sorte e alegria, gosta de dirigir. Ficou faltando tempo para irmos mais ao Norte de Braga, chegando até Santiago de Compostela, fica muito perto. Já marcado para a próxima viagem a Portugal. Apesar do aeroporto e da péssima impressão na chegada, gostamos demais de Portugal.

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O herói de mil faces (Joseph Campbell)

Cheguei neste livro por acaso, referência em outras leituras e entrevistas que ouvi. Estava na estante na fila para ser lido, mas antes dele li As transformações do mito através do tempo, também do Joseph Campbell (está listado entre meus livros Lidos, aqui no GoodReads, com uma revisão). Contei com a ajuda inestimável da Renata Peluso, que tem uma sequência longa de podcasts dedicada ao O herói de mil faces. Facilitou bem minha vida de leitor, já que se trata de uma obra de leitura muito difícil, com um nível de abstração muito alto em relação a realidade.

Foi uma leitura lenta, o conteúdo tem que ser entendido e assimilado passo a passo, exigindo consultas a outras fontes em várias passagens. Nos tempos modernos, qualquer leitura de boa qualidade exige acesso a web com frequência. Sobre o livro, é espetacular, mexe com nossa estrutura de vida e de entendimento do processo da vida, desde o nascimento até a morte. Tudo tratado como desafios ao herói (cada um de nós), os ritos de passagem de cada fase da vida desde o nascimento, infância, adolescência, etc. Cada passagem, um desafio para nossa mente, os dragões e outros bichos têm que ser vencidos, e os mitos ajudam demais nessas transições.

O mais interessante é entender como essa trajetória envolvendo o herói está presente nas diversas culturas do planeta, ao longo do tempo. Algumas mais ricas, com mitologia farta. Outras nem tanto, mas com algum mito para ajudar nas transições. Uma passagem interessante do livro, das muitas que marquei (pag. 177-178): “A agonia da ultrapassagem das limitações pessoais é a agonia do crescimento espiritual. A arte, a literatura, o mito, o culto, a filosofia e as disciplinas ascéticas são instrumentos destinados a auxiliar o indivíduo a ultrapassar os horizontes que o limitam e a alcançar esferas de percepção em permanente crescimento.” Minha próxima leitura vai ser a sequência natural deste livro: O homem e seus símbolos, Carl Jung.

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Rápido e devagar: duas formas de pensar

Sem mais cerimônias, vou adotar o nome do próprio livro como título desta postagem. O autor é Daniel Kahneman, livro publicado em 2011. Desde pouco tempo depois que foi lançado, o livro me chamou atenção e entrou para a minha lista de leituras obrigatórias. Cheguei a comprá-lo em uma das nossas viagens, na versão original. Mas, pasmem, o livro não coube na bagagem de volta, e tive que deixá-lo por lá, sem ter sido aberto (fiz uma doação do livro). Enfim, ganhei o livro de presente de aniversário em 2021, e chegou a vez dele, finalmente. Terminei de ler ontem, 15 de fevereiro, quase dois meses lendo com calma (li outros livros no mesmo período). Compartilho minhas impressões sobre o livro a seguir. Longe de ser uma resenha, são apenas opiniões sobre um livro que merece ser lido.

Enxerguei dois livros entremeados, um cruzando com o outro o tempo todo. Um fala sobre a carreira de pesquisador e professor do autor, e de sua parceria acadêmica com Amos Tversky, parceiro de longos anos. A vida acadêmica, o foco em problemas reais, o desenvolvimento de pesquisas para explicação de fenômenos observados no mundo real, pedindo explicação. É um foco movido pelos problemas, pelo mundo real. Os financiamentos, os desdobramentos, os novos problemas derivados dos iniciais, que foram gerando novas pesquisas, novos financiamentos, novas orientações, nova rede de contatos, e assim sucessivamente. Achei esta parte fascinante, uma história de vida. Mas, não se enganem, isso não está separado em um capítulo pronto para leitura. Ao contrário, está espalhado ao longo do livro, em parágrafos escondidos no texto e nos capítulos. Tem que ler o livro todo para saborear bem esta parte!

A outra parte, que constitui o livro propriamente dito, é a descrição dos dois sistemas que são o foco do livro: o Sistema 1, responsável pelas nossas operações automáticas e reação imediata aos problemas; e o Sistema 2, responsável pelas operações controladas, racionais, fiscal das decisões do Sistema 1. O livro é focado nas operações dos dois sistemas em vários tipos de problemas e de decisões que tomamos corriqueiramente. Mais importante, mostra claramente nossas distorções decisórias, por não analisarmos adequadamente as premissas que levam às decisões. Impressionante como tomamos decisões por impulso, levados por um ou outro atributo que aparece mais que os demais, que nos levam a resultados indesejados ou injustos. O mundo real está cheio disto, e temos o viés de confiar demais no nosso instinto, ao invés de procurar entender melhor, fundamentar melhor, as hipóteses ou premissas de nossas decisões. Para então termos uma decisão mais bem embasada, menos viciada. Incrível como fazemos isso o tempo todo.

Não vou me alongar, não seria capaz de acrescentar nada ao muito que já foi falado e escrito sobre este livro. Considero uma leitura indispensável para todos que querem entender e sobreviver melhor no nosso mundo, cheio de premissas falsas que ficam com cara de verdadeiras pelo trânsito nas redes sociais. Um perigo imenso, que pode nos levar a decisões completamente erradas. Temos que saber nos defender, e este livro é um enorme primeiro passo.

Recomendo demais, boa leitura e bom proveito.

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A gentleman in Moscow – Amor Towles

Teria muito para escrever sobre a experiência de ter lido esse livro, e sobre o próprio livro. Correndo o risco de ter que recorrer a detalhes (spoilers) que poderiam prejudicar a leitura de quem seguir minha indicação. O livro é surpreendente, cativante, enriquecedor, que me levou a conhecer a história da Rússia a partir do marco histórico da revolução bolchevique. Claro, tem que ir lendo com o celular do lado, revendo cada momento histórico e entendendo melhor os fatos registrados pela história. Tudo associado com a vida do Conde Vostok, que cumpria prisão domiciliar no hotel em que sempre morou, o Hotel Metropol. Que existe e fica localizado na Praça Vermelha. O texto é muito bem escrito, fácil de ler, prende atenção sem apelar para pirotecnias e outros recursos. É a vida do Conde relatada no periodo, sua rotina diária, sua participação na vida do hotel, e as transformações de sua própria vida ao longo do período coberto pelo livro. É obra de ficção, mas dá impressão de ter sido história real. Vale a leitura, muita informação de qualidade. Que me levou a valorizar mais a história da Rússia, seus valores e seu legado para a cultura mundial.
==============English====================
I would have a lot to write about the experience of having read this book, and about the book itself. At the risk of having to resort to details (spoilers) that could harm the reading of those who would follow my indication. The book is surprising, captivating, enriching, which led me to get acquainted with the history of Russia from the historical landmark of the Bolshevik revolution. Of course, you have to read with your cell phone at your side, reviewing each historical moment and better understanding the facts recorded by history. All associated with the life of Count Vostok, who was under house arrest at the hotel he always lived in, the Hotel Metropol. That exists and is located in the Red Square. The text is very well written, easy to read, catches attention without resorting to pyrotechnics and other resources. It is the Count’s life related in the period, his daily routine, his participation in the hotel’s life, and the transformations of his own life over the period covered by the book. It is a work of fiction, but gives the impression of having been real history. Worth reading, lots of quality information. Which led me to value more Russia’s history, its values and its legacy to world culture.

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A voz das coisas

Estava ouvindo um comentário de um jornalista, dos raros que eu acompanho nas redes sociais, quando ele falou sobre Antônio Gonçalves Dias, nosso poeta, escritor, advogado maranhense, nascido e falecido no século XIX. E mais conhecido pelo seu belo e festejado poema I-Juca-Pirama, que merece ser lido e relido por todos nós.

Não sei porque, me veio à mente “E Juca ouviu a voz das coisas”, de um poema que aprendemos no ginásio (quem passou pelo ginásio vai se lembrar desta poesia). Mais um poema daqueles que decoramos, declamamos e discutimos na sala de aula, e que certamente deixam marcas. Mas essa frase aí não tem relação nenhuma com I-Juca-Pirama, é de outro poema de Menotti del Pichia, A voz das coisas, e que é o título desta postagem.

Claro, fui reler o poema, agora com cabeça de 70 anos (daqui a 20 dias). Maravilhoso, fala da nossa relação com a terra em que nascemos e vivemos, com as origens. Valores que foram, de certa forma, perdidos ou embrutecidos pela vida, pelo mundo louco, pela pressa e pela urgência que as redes sociais imprimem na vida das pessoas, indistintamente. Recomendo a releitura (ou leitura), faz bem ao coração. Bom domingo!

A VOZ DAS COISAS [JUCA MULATO]

A VOZ DAS COISAS [JUCA MULATO]

E Juca ouviu a voz das coisas. Era um brado:
“Queres tu nos deixar, filho desnaturado?”

E um cedro o escarneceu: “Tu não sabes, perverso,
que foi de um galho meu que fizeram teu berço?
E a torrente que ia rolar no abismo:
“Juca, fui eu quem deu a água para o teu batismo”.

Uma estrela a fulgir, disse da etérea altura:
“Fui eu que iluminei a tua choça escura
no dia em que nasceste. Eras franzino e doente.
E teu pai te abraçou chorando de contente…
— Será doutor! — a mãe disse, e teu pai, sensato:
— Nosso filho será um caboclo do mato,
forte como a peroba e livre como o vento! —
Desde então foste nosso e, desde esse momento,
nós te amamos seguindo o teu incerto trilho
com carinhos de mãe que defende seu filho!”

Juca olhou a floresta: os ramos, nos espaços,
pareciam querer apertá-lo entre os braços!

“Filho da mata, vem! Não fomos nós, ó Juca,
o arco do teu bodoque, as grades da arapuca,
o varejão do barco e essa lenha sequinha
que de noite estalou no fogo da cozinha?
Depois, homem já feito, a tua mão ansiada
não fez, de um galho tosco, um cabo para a enxada?
“Não vás” — lhe disse o azul — “Os meus astros ideais
num forasteiro céu tu nunca os verás mais.
Hostis, ao teu olhar, estrelas ignoradas
hão de relampejar como pontas de espadas.
Suas irmãs daqui, em vão, ansiosas, logo,
irão te procurar com seus olhos de fogo…
Calcula, agora, a dor destas pobres estrelas
correndo atrás de quem anda fugindo delas…”

Juca olhou para a terra e a terra muda e fria
pela voz do silêncio ela também dizia:

“Juca Mulato, és meu! Não fujas que eu te sigo.
Onde estejam teus pés, eu estarei contigo.
Tudo é nada, ilusão! Por sobre toda a esfera
há uma cova que se abre, há meu ventre que espera.

Nesse ventre há uma noite escura e ilimitada,
e nela o mesmo sono e nele o mesmo nada.
Por isso o que te vale ir, fugitivo e a esmo,
buscar a mesma dor que trazes em ti mesmo?
Tu queres esquecer? Não fujas ao tormento.
Só por meio da dor se alcança o esquecimento.

Não vás. Aqui serão teus dias mais serenos,
que, na terra natal, a própria dor dói menos…
E fica que é melhor morrer (ai, bem sei eu!)
no pedaço de chão em que a gente nasceu!”

© MENOTTI DEL PICCHIA
In Juca Mulato, 1917
MENOTTI DEL PICCHIA In Juca Mulato e 1917 Enviado por CYNDYQUADROS em 20/02/2018
Código do texto: T6259054
Texto copiado do blog Recanto das Letras, protegido sob licença CREATIVE COMMONS

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Mingau de fubá

Ontem, como me acontece de vez em quando, me lembrei dos meus avós maternos, em conversa de cozinha. Foram os avós com que convivi toda a minha infância e juventude, e certamente de quem herdei boa parte da minha cultura familiar, bons princípios e algumas manias como o gosto pela leitura, pela música, pelo violão, pelas brincadeiras (de minha avó principalmente). O mingau de fubá é uma dessas lembranças muito fortes, que de vez em quando me volta à memória no rastro da saudade.

Antes de mais nada, será que todo mundo sabe o que é mingau? e de fubá ainda por cima? Vejam a foto aí do lado, é uma aparência típica do mingau de fubá: um creme, parecido com um angu mais molengo, e doce, coberto por canela. É um prato típico de café da manhã no interior de Minas, onde meus avós viviam. E meu avô Gastão adorava o mingau. Reunia os netos e quem mais estivesse na casa, na mesa do café da tarde (sim, aqui em Minas tem esse costume do café da tarde) principalmente, e faziamos uma roda de mingau com muita conversa. A gente era bem novo, eu sou o neto mais velho e tinha uns 6 ou 7 anos no máximo. Para a época, quase um bebê, menino crescido.

Conversa boa, que foi aos poucos ajudando a formar nossa cultura. Meu avô tinha paixão pelos livros e pela escrita, publicava artigos no jornal local de vez em quando, tinha gosto pela língua francesa (que era muito chique na época), e foi este o contexto em que cresci. Em algum momento meus pais se mudaram para outra cidade, e o mingau de fubá rolava somente nas férias. No mesmo formato, no mesmo lugar, com o mesmo gosto.

Interessante é que, do mingau de fubá mesmo eu não gostava, embora adore angu, mingau de milho verde, pamonha, etc., todos parentes do mingau de fubá. Eu preferia mingau de Maizena, que minha avó preparava com o mesmo gosto, e a mesa ficava mais ilustrada. Bons tempos, lindas lembranças. Os avós não morrem, os avós apenas ficam invisíveis, ou se mudam para o nosso coração.

A imagem do mingau de fubá veio do site http://receitasagora.com.br

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Netflix: a regra é não ter regras (No rules rule)

Lendo esse livro, me lembrei de um artigo de 2001 que eu usava em minhas disciplinas de Engenharia de Software: Zepellins x Jet Planes (citação no final do texto). O contexto era processos de desenvolvimento de software, comparativo entre métodos sequenciais (waterfall é o representante mais usado), e os métodos iterativos-incrementais (no final da linha, métodos ágeis que ainda não eram realidade da disciplina).

Problemas e situações mais estáveis e menos sujeitos a mudanças, são comparados a Zeppelins, fáceis de abater pela sua lentidão e baixa altitude de vôo. Esse tipo de problema aceita melhor a abordagem sequencial dos métodos waterfall. Já os problemas mais dinâmicos, que por sua natureza exigem mais mudanças para adaptação rápida à realidade mutante, eram comparados a JetPlanes, que voam alto, rápido e mudam de direção com muita facilidade, e exigem métodos de desenvolvimento que permitam promover com facilidade as mudanças no sistema exigidas pelo contexto.

Nesse livro sobre a cultura gerencial da Netflix, que é A regra é não ter regras, temos exatamente isso: gerenciamento de empresas menos sujeitas a mudanças de contexto e mais adequadas ao gerenciamento por processos com mais controle de atividades, e o gerenciamento de empresas que estão completamente imersas na inovação, seu contexto exige mudanças com muita frequência para se manterem no mercado. Essas exigem métodos de gerenciamento que permitam decisões rápidas, acompanhando as evoluções do mercado, com menos controle e muito mais contexto para decisões acertadas, sem controle. É o caso da Netflix, imersa em um contexto de inovação contínua, que exige gestão que permita adaptação também continua, descentralização quase-total do processo decisório, etc. Um enorme desafio aos métodos tradicionais de gerenciamento, mais baseados em processos, monitoramento e controle.

É um livro que desafia os nossos conceitos de gestão o tempo todo, a cada página, muitas lições, muita revisão de conceitos. Uma evolução nos métodos atuais de gestão. Valeu a pena a leitura, recomendo demais, para ser lido mais de uma vez. Proporciona evolução de conhecimento e uma nova visão do que anda acontecendo pelo mundo.

Phillip Armour. The business of software: zepellins and jet planes: a metaphor for modern software projects. CACM 44(10), October 2001.

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